sábado, 16 de junho de 2012

Erros, terríveis erros

Weheartit
"De que serviu tecer flores

pelas areias do chão, 

se havia gente dormindo 

sobre o própro coração?"

[Cecília Meireles]

   Carlos Eduardo caminha pelas ruas cinzas da cidade. É tudo sempre tão monocromático! Não vê mais as arvores grandes e vistosas, crianças brincando nas ruas refletidas do verde, não sente mais aquele cheiro de vegetação, ora vejam só há apenas poluição! 
    No lugar de suas arvores onde jovens meninos e meninas construíram seus balanços e escreveram as iniciais de seus amores só se enxerga agora enormes prédios, ah tudo tão moderno!
    Segue sua trajetória pela cidade, estão erguendo um novo shopping irão destruir a nascente mais bela para que ampliar o projeto. Ele irá sentir falta daquela nascente, foi bem ali que beijou os lábios da mulher amada pela primeira vez! Toda essa modernidade está apagando sua historia. Em breve as imagens daquela cidade só permanecerão em sua memoria até que a mesma pare de corresponder adequadamente.
    Não percebem que junto com as arvores derrubam a possibilidade de adolescentes e crianças que ainda nem chegaram ao mundo de ver aquela beleza de locar, de se divertirem do modo que ele fez.
    Mas não há preocupação para eles, Carlos Eduardo vê a alegria temporária nas faces das pessoas pela modernidade, pelas lojas, são alegrias enganosas vindo de erros, terríveis erros contra a frágil e furiosa natureza que padece em dor e arde em revolta!
     Carlos Eduardo continua a andar, e com um triste sorriso sente pena dos seres humanos que ainda não entenderam que ao matar a natureza matam a si lentamente! 

sábado, 2 de junho de 2012

Noite fria


"Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus."
[Clarice Lispector]

        Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Suas mãos tremiam enquanto segurava o volante. Sentia seus pés fracos e suas pernas tremiam mesmo com ela sentada no banco do carro, sentia-se mais instável do que nunca e a musica que tocava no rádio fazia todas as emoções entrarem em conflito dentro de si. 
       O trânsito era infernal! Carros buzinavam de todos os lados com a avenida refletida em pouca iluminação. De repente não conseguiu mais segurar as lágrimas, todas unidas contra ela lavaram-lhe a face trazendo um suspiro tristonho.
Se ela pudesse fazer algo por si mesma gostaria de voltar no tempo. De voltar exatamente há onze meses atras e avisar a si o quanto ela iria errar dali em diante, queria poder alertar o quanto ela mesma causaria mal para sua própria vida!  
      A triste questão é que essa alternativa não estava presente nas opções que possuía, justamente por isso chorava desesperadamente e agora com os olhos embaçados mal conseguia visualizar o caminho. For nesse momento de inercia que algo dentro dela aconteceu! Sem explicação, motivo certo, ou causa concreta ela abriu a porta do carro, a principio apenas alongar o corpo e sentir o vento frio da noite, mas acabou por gostar da sensação que o vento realizava ao tocar seu rosto secando as lagrimas que ainda insistiam em cair. Depois não viu sentido em continuar o caminho habitual, então decidiu ir a pé. 
       Entrou no carro, retirou as chaves do contato, fechou o carro e seguiu. Ouviu várias pessoas gritando e a ofendendo por abandonar o veiculo em uma avenida, como se ela se importasse com isso agora!
       Em sua vida confusa ela sempre colocou os sentimentos em lugar preferencial do que os bens materiais, logicamente sabia o quanto precisava desses bens, mas se ela havia se perdido em algum lugar qualquer no caminho, qual seria o problema de perder algo assim enquanto procurava por si? 
Sendo assim, caminhou durante alguns segundos quando percebeu que o sapato de salto a incomodava e o tirou dos pés! Ora, como era bom finalmente estar com os pés no chão! Isso tinha um significado muito mais amplo do que ela poderia pensar, estava retirando não apenas um par de sapatos novos, mas sim tudo aquilo que viesse a ser um incomodo.
       Caminhou, caminhou e ainda mais um pouco pensando em tudo que havia feito de errado naqueles meses, em tudo que poderia ter se privado de passar, na sua preservação, em tantas coisas que poderiam ser evitadas e apenas dificultaram tudo ainda mais. Quando se cansou, sentou-se em um banco velho e pensou por um breve instante se algo poderia ficar ainda pior. Começou a chover.
      Exatamente como uma típica cena de novela, a chuva caiu naquela noite fria e ela em seu estado de reflexão e abandono riu por não acreditar que aquilo estivesse acontecendo com ela desde os onze meses passados até a sua atitude de abandonar o carro e sentar em algum banco qualquer da rua. Sua risada foi alta e contagiante enquanto a chuva molhava seu corpo e sua descrença. Riu como não fazia há muito tempo, riu com o coração e não apenas com os lábios. Um riso espontâneo do qual ela não sabia o quanto sentia falta.
     Na noite fria de chuva calma ela percebeu sem rumo algum o quanto as coisas ruins da vida trazem as forças para dar sequencia em todo o resto, que também podem carregar coisas boas depois de todo o triste trajeto como se fossem prêmios por aquilo que você sozinho teve que enfrentar e ao olhar para o céu escuro da noite viu que a vida contempla cada pequeno momento presenteando com surpresas quando menos se espera. 
      Percebe então que nunca se perdeu, apenas precisou errar para aprender mais um caminho certo até que erre novamente para ganhar um novo aprendizado da surpreendente e misteriosa vida!